quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Geração coca-cola (com vodka)

Paul for kids

É quase desnecessário dizer que quando fui ao show do Paul McCartney (21/12 em São Paulo), me deparei com um público extremamente variado. Como diz minha mãe, tinha gente “de mamando a caducando”. Tiozões, famílias inteiras, playboys e até fãs.

Nas 5 horas que passei na fila mais as 4 na pista, tive um bom tempo para fazer exercícios de abstração. Ficava olhando as pessoas e imaginando quais que estavam lá unicamente pelo fato de um Beatle estar no Brasil, quais estavam pelas músicas dos Beatles, quais seriam fãs da carreira solo do Paul, fãs do Wings ou curiosos (quem paga 300 paus por curiosidade merece tortura chinesa, mas tudo bem).

Eu estava com mais dois amigos, conversamos com poucas pessoas na fila, sabe como é, bichos do mato, anti-sociais e tal... Ao nosso redor havia um rapaz da nossa idade (25 anos, mais ou menos), um outro da mesma idade, argentino, um homem, já na casa dos 40, junto com o pai, e algumas garotas de uns 19 anos. Não conversei o suficiente para saber os reais motivos de estarem ali, considerando que o amor pelos Beatles era unanimidade.

Havia também um rapaz argentino e duas garotas adeptas do veganismo. Ah é, também tinha o público fã das causas defendidas pelo Paul, vegetariano atuante. Não compartilho, mas respeito a ideologia e a dieta vegana, no entanto, confesso que fiquei um pouco perplexo em ver as garotas comendo grão de bico em caixinha durante a espera na fila. Fiquei imaginando que um vegano não sobreviveria no interior de São Paulo, onde vivo. Das três uma: morreria de fome, abandonaria a filosofia, ou comeria presunto escondido.

Já dentro do QG dos bambi Morumbi, ficamos ao lado de um grupo com 6 pessoas, 5 garotas, muito bonitas, e um garoto. Imaginei que tivessem uns 15 anos, mas ouvi de relance conversas sobre ir à faculdade segunda-feira, então imagino que tenham uns 17, não mais que isso.

Até interagimos um pouco com eles, mas a sensação de tiozões não nos permitiu prosseguir muito a conversa. Como o espaço estava bastante limitado, era inevitável escutar conversas alheias. Ouvi duas das garotas conversando sobre terem ido ao show da Maria Cecília e Rodolfo. Exercício de abstração mode on. Pensei: “o que fazem aqui? Estão pelos Beatles? Ganharam o convite?”.

Eis que em dado momento, uma das garotas começou a cantarolar “A Day In The Life”, e em seguida todas cantando “Give Peace A Chance” como quem canta Ivete Sangalo em uma micareta (você leu direito, eu escrevi “A Day In The Life” e “Give Peace A Chance”, e não “Twist And Shout” e “Yesterday”). Como as duas músicas são tocadas em um número só na turnê atual do Paul, pensei que elas poderiam apenas ter “ensaiado” o repertório, mas pensando melhor, acho isso possível, mas pouco provável.

Em outro momento, tocava Wilco nas caixas de som, não me lembro a música, mas uma das garotas perguntou para a outra: “que som legal, de quem será que é?”. Não sei porque não respondi, depois me arrependi de não ter contribuído para o bom gosto de nossa juventude.

Sei que fiquei pensando nisso depois. Estaríamos diante de uma juventude capaz de gostar (quando digo gostar é gostar mesmo, não só ouvir ou tolerar) ao mesmo tempo de Maria Cecília e Rodolfo, Luan Santana, Restart, Radiohead, Wilco e Beatles? É claro que isso é praticamente um estudo de caso picareta, estou tratando uma rodinha de garotas como toda uma geração. De toda forma, foi bom saber que existe esse nível de diversidade, não sei ainda se isso é bom ou ruim. E você, o que acha?

Público jovem presente no show

7 comentários:

Diego disse...

Velho, essas minas querem festa, pra elas não importa quem tá no palco, o que importas é que são famosos e mais uma forma delas mudarem o estilo da "balada".

Garanto que se sentiam numa boate gigantesca no Morumbi.

Provavelmente devem estar esperando com fervor o show do "DJ Avan". O bicho!

Diego Assunção disse...

Diego proliferando seu sexismo de boteco nos comments do blog, hahaha

Bia Longhini disse...

Tinha pensado em uma super tese para defender as meninas que o Diego citou ai no comentário dele, mas desisti. São casos e casos, acho que não tem como a gente generalizar. Não me espanto em saber da diversidade de pessoas que foram ao show do Paul, hoje em dia as cabeças estão mais abertas a novas músicas, bandas e afins. A diversidade sempre é muito bem-vinda.

Diego Assunção disse...

Bia, não desista. Escreva aí essa tese. Primeiro porque nós gostaríamos de ler e, depois, acho que ela poderia ser publicada aqui no Traburrada, opa, Trabucada.

Diego disse...

Escreve aí Bia! Fiquei curioso! Aliás, sempre que fico nervoso, eu generalizo, é a melhor forma de extravasar!

Sexismo de Boteco é o que há!

Bia Longhini disse...

Eu ando um pouco com preguiça e bloqueio intelectual hahaha, mas vamos aguardar os próximos dias...

Talita Rustichelli disse...

Taí, Du. Acho que as cabeças estão mais abertas, pra tudo, aliás. Tipo uma característica das novas gerações... Ou então é uma nova tribo surgindo, a tribo dos "curte tudo". Vai saber...