sábado, 11 de junho de 2011

Especial "Dia Dos Namorados" Lado B - Eduardo Martinez


No Lado A tudo são flores, aqui entra o inverso. Todo amor que se preze tem uma dose de sofrimento. Na minha seleção do Lado B, essa face oposta ao amor aparece de várias formas. Despedida, solidão, desilusão e tristeza. Dito isso, se você quiser começar ouvindo essas músicas e terminar com o Lado A, para terminar o dia melhor, respeito sua escolha.


Frank Sinatra - In The Wee Small Hours Of The Morning

A música que é do disco de 1955 que tem o mesmo nome. É considerado por muitos o melhor disco já feito sobre separação. Foi feito logo após o término do romance de Sinatra com Ava Gardner e em um momento de dificuldade na carreira do cantor. A música transpira saudade e desilusão. Ouvir com calma e prestando atenção é de quebrar as pernas.





Jeff Buckley – Last Goodbye

O tema aqui, como o nome indica, é despedida. Com direito a toda dor e sofrimento que é possível quando você vê um grande amor se acabar. Aquele momento em que dizer “último abraço” ou “último beijo” podem doer mais que punhaladas nas costas, especialmente quando uma das partes ainda não se convenceu que o sentimento que havia, definitivamente, acabou.





Joy Division – Love You Tear Us Apart

Outra canção sobre despedida. Mas aqui o sentimento é mais de tristeza do que de desespero. A atmosfera gélida parece perceptível mesmo sem conferir a tradução da letra. Aí então, quando você entende, piora. “Quando a rotina corrói duramente/E as ambições são pequenas/E o ressentimento voa alto/Mas as emoções não crescerão/E vamos mudando nossos caminhos/Pegando estradas diferentes”.




The Beatles – I Want You (She’s So Heavy)

Se Beatles apareceu no Lado A como exemplo de fofura, eles também estão no lado negro da força mostrando toda a tensão que um relacionamento pode ter. A música, escrita por John Lennon, dizem que foi inspirada em seu relacionamento com Yoko Ono. A letra toda se resume a: “Eu quero você/Eu quero você tanto/Está me deixando louco/Eu quero você/Ela é tão pesada”.




The Cure – Just Like Heaven

Tudo começa lindo, a música sugere um relacionamento comovente de tão perfeito. Mas conforme a canção se desenvolve percebemos que há algo errado. A interpretação é aberta, mas a letra mostra que, ou tudo não passa de um sonho, ou o personagem da música perdeu seu grande amor. É bem triste. “A luz do dia me deixou em forma/Eu devo ter adormecido por dias/E movi meus lábios para respirar seu nome/Eu abri meus olhos/E me encontrei sozinho, sozinho, sozinho.../Acima de um mar revolto/Que roubou a única garota que eu amei/E afogou-a dentro de mim”

Especial "Dia Dos Namorados" Lado B - Diego Assunção


Essa é a seleção para quem vê no amor um sinônimo para a dor. Para todos aqueles amantes solitários, apaixonados não-correspondidos, homens e mulheres traídos ou abandonados. São canções que, ao invés de incentivarem um suicídio coletivo, espero que sirvam como um alento. Afinal, as canções descritas abaixo provam que vocês não estão sozinhos:


Billie Holiday – My Man

Quem já visitou a biografia da cantora no Wikipédia, deve ter lido um punhado de suas histórias de amor. No universo amoroso de Billie Holiday, palavras como submissão, espancamento e cafajestismo andam ao lado do amor incondicional feminino. My Man é um resumo do “amor bandido” para sempre eternizado na trágica e fantástica voz da intérprete.




Hank Williams – Cold, Cold Heart

Talvez não tenha existido cantor que mais sofreu nas mãos das mulheres do que Hank Williams. Suas melhores músicas são sempre embaladas pela dor nos cornos, crônicas de um pobre diabo traído por mulheres frias. Nenhuma canção resume melhor a carreira do cantor e seu tema obsessivo do que essa. O título já diz tudo.




Nick Cave & The Bad Seeds – Henry Lee

Essa música compõe o álbum que tem por nome o revelador “Murder Ballads”. E é exatamente uma balada de assassinato sobre um crime passional que a mente doentia de Nick Cave aborda aqui. Adepto de um romantismo não-ortodoxo, ele brada versos do tipo: “Ela se inclinou sobre uma cerca/ Só para um beijo ou dois/ E com um pequeno canivete em sua mão/ Ela o apunhalou firmemente”.





Iggy Pop – Cry for Love

Iggy Pop já uivou e se pôs de quatro a proclamar “Eu quero ser o seu cachorro”. Mas acho que o ponto alto de suas canções de amor bandido se encontra aqui. O mais bronco dos broncos grita e chora por amor e não teme confessar isso a anunciar que “às vezes meu auto-respeito fica em segundo lugar”. Porém, nem tudo está perdido para um romântico como o iguana, principalmente quando ele canta esperançoso ao final: “se você estiver a chorar por amor, ainda há uma possibilidade para você e todos conseguirem isto”.




Jackson C. Frank – Milk and Honey

A versão de Nick Drake é a mais conhecida. Mas a versão original, cantada pelo obscuro Jackson C. Frank é imbatível. A voz é cavernosamente triste e o dedilhar no violão deixa a impressão de que até o instrumento seria capaz de entrar em depressão e querer se jogar de uma ponte. Essa é a combinação da melodia, este é tom da tragédia a narrar um amor que caminha na contramão, em desencontro, na perdição total.

Especial "Dia Dos Namorados" Lado A - Eduardo Martinez


Com toda minha indecisão na hora de selecionar músicas, escolhi 5 para a lista do Trabucada em homenagem ao dia dos namorados. Trata-se aqui do “Lado A”, ou seja, da parte bonita da coisa toda. Meu critério de seleção foi quase aleatório, uma pesquisa na pasta de músicas do computador e um “peneirão” para escolher 5. Algumas óbvias, outras nem tanto. O amor aqui se faz presente de várias formas, seja com entrega total, com singeleza, e até escracho. Sirva-se:


The Smiths – There Is A Light That Never Goes Out

Morrissey, um dos profetas da dor de amor fala sobre a entrega total a esse sentimento tão abordado pelo cantor. Não sobram muitas explicações depois do refrão dramático/apaixonado: “E se um ônibus de dois andares/Colidisse contra nós/Morrer ao seu lado/Que jeito divino de morrer/E se um caminhão de dez toneladas/Matasse a nós dois/Morrer ao seu lado/Bem, o prazer e o privilégio seriam meus”. Precisa mais?




The Beatles – And I Love Her

Clichê? Com certeza. Mas se você descobrir um amor verdadeiro que não tenha clichês me mostre, por favor. E convenhamos, com uma melodia dessas, até uma letra do Luan Santana. Ok, talvez aí não. O que importa é que poucos falaram de amor com tanta singeleza do que os Beatles, no caso, Paul McCartney.




Wander Wildner – Eu Tenho Uma Camiseta Escrita Eu Te Amo

Sim, o assunto aqui é amor. A flor da pele. Passando com intensidade pelo desejo carnal (ok, tucanei o tesão, mas tudo bem). Sertanejos universitários dariam o chifre esquerdo por versos como: “Se eu pudesse estaria agora perto de você/Se eu pudesse eu ficaria sempre junto de você/Se eu pudesse eu estaria ouvindo o seu coração/Se eu pudesse eu não faria nada, nem essa canção”.




Michael Jackson – I Was Made To Love Her

A música é do Stevie Wonder, mas essa versão vibrante de um ainda criança Michael Jackson expressa o sentimento em questão com mais, digamos, força. Dá pra imaginar Michael, em sua pré-adolescência, cantando essa música e deixando marmanjas babando apaixonadas pelo gênio precoce.




Roberto Carlos – Eu Te Darei O Céu

Confesso que se não colocasse nenhuma música do Rei nessa lista, não conseguiria dormir a noite com tamanha injustiça. Daria tranquilamente para fazer várias listas dessa só com músicas de Roberto. “Eu te darei o céu, meu bem/e o meu amor também”, se isso não for o suficiente para conquistar uma garota, só lamento por ela.

Especial "Dia Dos Namorados" Lado A - Diego Assunção


Fazer uma lista de “canções de amor” é sempre uma tarefa árdua. São tantas inesquecíveis. Poderia apelar para as mais célebres e infalíveis. Sinatra, Ella Fitzgerald os Beatles, Roberto Carlos? Sim, é verdade. Mas preferi seguir por outro caminho. Assim, não espere um pingo de racionalidade ou coerência. O critério usado foi a total ausência de critério. Método questionável, hein? De cara, digo que as escolhas são aleatórias, resultantes de uma fraca memória, uma preguiça extrema e um subjetivismo confesso... Todos ingredientes que levam a discórdia. Então, vamos lá:


Cat Stevens – How Can I Tell You

Ele já cantou sobre a fé, pais e filhos, o vento... Sobre o amor, esse sentimento indizível, Cat Stevens não poderia ter sido mais preciso: “Como eu posso te dizer que eu amo você/ Eu amo você, mas não consigo pensar nas palavras certas para dizer”. Versos assim são o suficiente.




Leonard Cohen – I’m Your Man

Com essa canção, Leonard Cohen tenta provar que faria tudo para conquistar a mulher amada. “Se quer um boxeador, entro num ringue por você/ Se quer um médico, eu examino cada centímetro seu”, professa antes de se ajoelhar, implorar e pedir pelo amor que parece hesitar. Com senso de humor aliado à tragédia, o trovador canadense afirma aquilo que ninguém ousa desmentir: não há limites para o amor.



Solomon Burke – If You Need Me

Eis aqui uma daquelas músicas que o artista parece ter feito com o objetivo de reconquistar um amor perdido. A voz de Solomon Burke e a intensidade – sempre a plenos pulmões - com que ele se põe a cantar é a mais perfeita representação de quão devoto deve ser aquele ser que ama. Mais do que cantar, Burke clama. A isso denominamos uma música de amor.



Frankie Valli & The Four Seasons – My Eyes Adored You

Não poderia faltar na lista um cânone do gênero. Da mesma trupe do Frankie Valli, muitos prefeririam escolher o óbvio, como a música de todos os casamentos “Can’t Take My Eyes Off You”. Eu fico com essa, a canção síntese do amor platônico. O músico canta e relembra o amor inocente da infância, por aquela garota que amava só de olhar e nunca teve a chance de tocar. Cafona? Pode ser. A beleza do amor, às vezes, está em sua cafonice inerente. Item indispensável, portanto.



The Rolling Stones - Let’s Spend the Night Together

Eis aqui o máximo de romantismo que podemos encontrar numa música de Jagger-Richards. Um chamado à chincha ao amor. Amor pela ótica do rock n’ roll. Ou seja, apelando ao que ele tem de mais fugaz, insano e inconseqüente. Pode até parecer uma contradição, mas é nisso que Jagger e companhia acreditam: guiar-se pelos instintos, buscar o prazer. Chame isto de amor, paixão, sexo... São palavras ao vento. Não importa o nome que se dê a isso, mas sim o sentimento contido e a maneira como se consegue expressá-lo (geralmente guiado pelos habituais “na na nas” do vocalista).

sexta-feira, 10 de junho de 2011

“Piratas do Caribe” é o filme do século XXI


Desde o primeiro exemplar, a saga dos “Piratas do Caribe” mostrou-se como um oportuno produto do seu tempo. Cada um dos filmes está contaminado por tudo aquilo que o seu público-alvo anseia. Histórias rocambolescas e efeitos especiais atraentes são o bastante para satisfazer as taras por inovações do seu espectador e, por conseqüência, ludibriá-lo com isso ao ponto de tornar irrelevante a falta de substância das obras.

Ao mesmo tempo em que dispõe de atrativos para agradar facilmente o seu público, a série se impõe como um reflexo dessa cultura ao qual se insere. A cultura ao qual se insere esses piratas é a da infantilização do ser humano e ela se percebe quando descobrimos que a franquia foi inspirada numa atração de um parque de diversões. Só isso basta para constatar a infantilidade do projeto e também a imaturidade do público que vibra com ele.

Os defensores dos “Piratas do Caribe” costumam usar o prestígio de Johnny Depp como ator para justificar o injustificável. Dizem que o filme é bom por não se levar a sério e que o ator é o responsável por esse suposto despojamento, emprestando sua própria excentricidade para compor a caricatura do seu personagem.

Esse argumento é válido parcialmente. Primeiro porque se há graça nessa balbúrdia, essa comicidade existe por ser uma novidade, já que possivelmente foi a primeira vez que Johnny Depp se despiu de qualquer senso de ridículo.

Ver pela primeira vez o ator caminhar daquela maneira desequilibrada e afetada, com os braços estendidos ao alto como se fosse um equilibrista ébrio, pode realmente ser algo muito cômico. Mas não é um humor que se sustenta por quatro longuíssimos filmes. Na enésima vez, já não queremos rir, mas arrancar a poltrona no cinema com as unhas por gastar vinte mangos num divertimento tão rasteiro.


E o problema dos “Piratas do Caribe” é esse. Os filmes dependem demais da inspiração do seu ator para atrair o público. É uma combinação manjada e irritante de exibicionismos: o do ator e dos efeitos especiais contidos nas produções.

Se o ator faz uma paródia de si mesmo, dessa imagem de “o estranho” ao qual se tornou ícone, o filme não vai mais longe ao tentar fazer uma sátira de desgastadas lendas de um velho gênero, dos filmes de capa e espada.

Se ao menos essa franquia servisse para que os espectadores se interessassem pelos artigos reais – os filmes clássicos do Errol Flynn - e não se contentassem com as meras imitações, como essas versões contemporâneas e modorrentas, já seria o suficiente para enaltecer a existência dela.

Só que o público se contenta com muito pouco. Deleita-se com um punhado de barulho, piadas manjadas, efeitos especiais de última geração. Com isso, fica claro que o público recebe o filme que merece. São cúmplices em suas mediocridades.

Eu recuso “Piratas do Caribe” por princípio. Não acho possível admirar um filme inspirado num parque de diversões. Ser favorável a isso é ignorar o quanto o entretenimento do século XXI se rebaixou.


Quando o cinema era capaz de oferecer diversão de qualidade, daquela que não subestimaria o nosso intelecto ou nos tomaria por débeis mentais, as aventuras fornecidas pelo cinema tinham como fonte de inspiração a literatura de um Alexandre Dumas ou Herman Melville. Hoje nos inspiramos num brinquedo de Play Center? Acho que não evoluímos muito. Talvez para a condição de eqüino.

Não parece mera coincidência a narrativa de este quarto episódio concentrar-se na busca dos personagens pela fonte da juventude. Os piratas querem tanto rejuvenescer quanto os produtores desejam infantilizar o espectador, para que ele aceite de braços abertos toda a porcaria oferecida a ele.

“Piratas do Caribe - Navegando em Águas Misteriosas” é isso: um produto desgastado que insiste em ser jovem. E como bem disse Nelson Rodrigues, “a juventude é um mal que passa”. Espero que isso seja verdade.


* Texto publicado na Folha da Região do dia 09 de junho de 2011.