quinta-feira, 7 de abril de 2011

Idéias debaixo d’água, como anotá-las?

Para Monique. Sem ela este texto não seria escrito (sim, podem culpá-la por isso)

Como nascem as idéias? Sempre considerei que o método diz muito a respeito do trabalho artístico. Portanto, responder a essa pergunta já significa conhecer um pouco do talento de alguém, vislumbrar sua genialidade ou mediocridade.

Para se inspirar, o escritor Ernest Hemingway gostava de se meter em encrencas. Entre suas preferências, constava: se embriagar, caçar e enfiar-se no meio de guerras civis. Seu gosto por esportes como boxe e tourada também já entreviam o estilo viril de sua escrita. Cheio de “cojones” como ele mesmo diria.

Charles Bukowski escrevia numa velha máquina, trancafiado sozinho num quarto pequeno e imundo. Ao som de qualquer rádio que tocasse música clássica, Mahler de preferência, e abastecido por cerveja gelada e vinhos baratos ele destilava sua prosa nua e crua sobre os dissabores da existência humana.

Hunter Thompson escrevia sob a influência de motos envenenadas ou alucinógenos, Henry Miller se motivava por uma vida de promiscuidades em Paris... Todos os exemplos citados comprovam a teoria: um método peculiar gera também um trabalho incomum. Uma maneira pessoal de criar denota uma personalidade forte por trás da criação.

Do lado negativo, podemos dizer que manias excêntricas ou escrotas conseqüentemente são capazes de gerar uma arte igualmente bizarra. Assim, não por acaso Ed Wood era considerado o pior cineasta de todos os tempos. Para escrever roteiros, ele se vestia de mulher (com peruca, casaco de angorá e saiotes e todo o resto). É claro que um indivíduo nunca faria um “Cidadão Kane” com essa fonte de inspiração.

Para além do bem e do mal, creio que nunca deixarei o hall dos medianos. Minha escrita tosca e insossa explica-se pela sua nascença de pouca classe e estilo. Todas minhas idéias nascem debaixo d’água.

Não, não banco o César Cielo, Jacques Cousteau nem Esther Williams para clarear as idéias. Se assim fosse, teria chance de ser um Norman Mailer ou Ed Wood. Não há nada de excêntrico, sequer peculiar ou corajoso em ter inspirações debaixo do chuveiro. No fundo, isso me parece até um método bastante batido, um clichê, no ato da inspiração criativa.



Minhas melhores e piores idéias nasceram durante um banho. A vontade de escrever aumenta quando estou recebendo um jato de água na cabeça. A razão para isso talvez seja um indício de que meu cérebro só funciona no tranco, com pancadas de água gelada. Ou ainda que testemunhar diariamente um sabonete recheado de pêlos, com a aparência de um mini-urso, instiga as idéias mais mórbidas.

Eu costumava achar que a inspiração no chuveiro surgia como um mecanismo de defesa. Primeiro porque sou um cara preguiçoso. Segundo porque deste modo, tendo idéias no chuveiro quando você é incapaz de anotá-las, forja a desculpa perfeita para não colocar as idéias no papel simplesmente para evitar a fadiga. São hipóteses, vai saber...

Até poucos dias atrás, escrever no chuveiro era apenas um desejo proibido. Mais ou menos como aquele impulso transgressor que move um cachorro ao defecar no quintal tão breve a diarista termina de lavar o local. As idéias ocorriam no chuveiro, e lá eu tinha que terminar o banho correndo, todo ensaboado, para anotá-las em algum canto.

Mas meus dias de cachorro ficaram para trás. Porque agora eu tenho um bloco de notas aquático. Ou melhor, um bloco à prova de água. Não sei quem teve a idéia para tão brilhante criação ou se o dono da patente é o Bob Esponja, Aquaman ou a pequena sereia.



Para o resto da humanidade, um bloco à prova de água pode ser visto como um objeto apenas curioso ou simplesmente inútil. Já para um imbecil como eu, é puro ouro. Para alguém que sofria com as idéias fugindo pelo ralo, ganhar um bloco desses é como sentir-se um super-herói. Indestrutível!

Óbvio que um instrumento genial desses em minhas mãos é mais ou menos como Deus dar um pau grande para um portador de impotência sexual. Muito mais útil seria se ele existesse nos tempos de Herman Melville. Já imaginou ele escrevendo Moby Dick in loco com seu bloco indestrutível num barco minúsculo em mar turbulento?

Mas não vamos lamentar a má-sorte de autores mortos. Enquanto meu bloco aquático durar, minhas idéias não mais escaparão pelo ralo, caro leitor. Para a minha sorte ou o seu azar. Deal with it!

Um comentário:

Monique disse...

hauhauh...mto legal esse bloco aquático!! E super funciona!!