sábado, 12 de março de 2011

Porque odeio rótulos


Para você metal core é alguma espécie de analgésico, enquanto black metal deve ser um consolo para mulheres emancipadas? Você não diferencia emo de homo? Então você não está sozinho, meu chapa.

Bem, estávamos num bar. Por lá tocava algum rock n’ roll. Não lembro se era hard rock ou psychobilly, que porra de rótulos... A única coisa que me recordo é que em certo ponto a cerveja com álcool acabou. Márcio Anix é do tipo pouco criterioso quando se trata de cerveja ou mulher. Ou seja, ele topou enfrentar a destemida cerveja sem álcool ao invés de mudar para a vodka ou uísque. Sempre teve uma tremenda fidelidade à gelada.

Enquanto tomava o negócio e se autoparodiava pela escolha, alguém resolveu lhe ceder uma estampa de outra cerveja (daquelas de gente grande mesmo) para disfarçar e deixar de ser o motivo de chacota da roda. Eis que um selo recobria magnificamente o outro. Pelo comportamento do lendário bebedor, ninguém ousaria apontar o dedo e dizer que ele tinha se convertido à caretice e que estava usando “droga pesada”, do tipo cerveja não-alcoólica.

Considero essa breve anedota um resumo da importância dos rótulos. Ou da falta dela. Márcio é outro grande profanador da relevância de marcas, gêneros e adjacências. Não duvido que com aquele seu gesto no bar ele não estaria mostrando uma banana para aqueles que acreditam nessas asneiras. Pouco importa. O que o comportamento ébrio dele diante de uma sóbria cerveja demonstra é que rótulos, estampas, marcas, gêneros, essas coisas são significativas exclusivamente para os publicitários, os adoradores de guias de consumo e usuários de almanaques de araques.

Se uma banda adere com reverência a um rótulo, ela não deve ser boa. Se um filme cai como luva numa fácil taxação, provavelmente é insignificante. A verdade é que os grandes homens e mulheres estão sempre se esgueirando dessas porcarias redutoras.

Quando falaram ao Bob Dylan que ele era o embaixador do folk, ele pulou fora e abraçou a guitarra. Ao espalharem que o Johnny Cash era um encrenqueiro, ele agarrou a bíblia e aderiu aos gospels.

Enfim, pra que serve um rótulo? Estaria pronunciando o óbvio ululante se dissesse que é para vender uma marca ou idéia, então, digo que um rótulo serve também para animar outras coisas, como gangues (“vestiremos o vermelho do Bloods ou o azul dos Crips?”), facções criminosas e assembléias evangélicas...

Um rótulo nunca é bom. É uma maneira de minar com a individualidade, homogeneizar as diferenças. Aderir ao rótulo é render-se à condição ruminante. Formando um rebanho de gado, prontos para ter a lomba marcada. Não à toa que os nazistas costuravam a estrela de Davi nas roupas dos prisioneiros judeus, para identificar e subjugá-los.

Um comentário:

Márcio Anix disse...

Legal, mas confesso que não entendi a parte da minha falta de critério com o universo feminino. mas ta valendo, pelo menos vc não deu exemplos. rsrsrsrs