domingo, 20 de fevereiro de 2011

Balada de um sábado


Sábado, hora da novela, concentração total (sim, eu gosto de novela, e se o Zé Marques de Melo pode, por que eu não poderia?). De repente ouço gritos da vizinha. Não dava pra entender o que era, parecia uma briga de faca. Peguei o sapato e esmurrei com eles a minha janela pra ver se os estrondos interrompiam o quiprocó. Que nada. O griteiro continuava.

Colei o ouvido na janela pra escutar melhor e ouvi as mulheres gritando um monte de coisa enrolada. Uma russa gagá brigando com uma chinesa biruta.

Depois das coisas enroladas, veio “sai capeta, sai do corpo da minha filha, saaaai capeta” e falava um monte de coisa enrolada de novo. As coisas enroladas, minha avó diria que foi a atuação do Espírito Santo. Alguma coisa esse cara fuma... esse espírito não estava tão santo assim.

No começo assustei. Vai que o capeta resolve sair e dar uma voltinha nas casas vizinhas (e eu sem nem uma branquinha pra oferecer). Aí, depois do cagaço, impacientemente abri a porta, fui no corredorzinho que havia entre minha kitnet e a casa do vizinho e meti a pá de lixo na parede trilhões de vezes com a esperança de que o susto acordasse o povo daquele transe. Nada...

Fui pra dentro, resmungando. Vamo lá, capeta, vamos cooperar, sai logo. Coloquei a TV no volume máximo e nada de parar. Durou uns 15 minutos.

Acabou a novela e fui correndo acender uma vela e um incenso. Nessas horas a gente apela pra tudo. Lembra que Deus existe e, pra garantir, até finge que sabe cantar uns mantras... A fé sincrética.

Coloquei o assunto numa rodinha de amigos. Um perguntou “Ué, era macumba ou era crente?”. E o outro respondeu: “Crente, porque crente é que fala ‘sai capeta’. Macumbeiro fala ‘vem capeta”. Eu ri.

Se era capeta, se era loucura, eu não sei. Eu é que não serei São Tomé!

Nenhum comentário: